quinta-feira, 8 de abril de 2010

Informatização de Redes de Saúde - Como Começar?

Tenho acompanhado através da leitura de editais, visitas, e discussões com diversas secretarias municipais de saúde uma série de processos de informatização e/ou tentativa de informatização da Rede de Saúde, entendendo aqui de forma bem simplória, e apenas para efeito de discussão “Rede de Saúde” como sendo o conjunto de unidades de saúde de um determinado município.

Em geral, os processos tem cometido o pecado clássico que vários outros setores da economia cometeram no passado em maior ou menor escala, que é acreditar que o simples processo de informatização (disponibilização de computadores, um sistema de gestão e algum treinamento) vai resolver todos os problemas de administração e gestão da rede, inclusive os até então insolúveis como baixa qualidade do atendimento.

Quando convidado a discutir a informatização de uma rede de saúde, a primeira coisa que pergunto é: Qual o objetivo a ser alcançado? Qual a nossa meta? Neste ponto normalmente a resposta é: Informatização de 100% da nossa rede (resposta bem padrão e sem nenhuma criatividade), e eu tento reformular a pergunta: Qual o objetivo da informatização de 100% de nossa rede? Que benefícios esperamos alcançar com este processo?

Este questionamento é particularmente importante para podemos elaborar o projeto que nos direcione no sentido de alcançar os objetivos esperados (que podem ser descritos por etapas), e normalmente depois de muita discussão onde diversos, às vezes dezenas, de benefícios são descritos, concluímos que para alcançar estes objetivos precisamos trabalhar mais duas dimensões além de tecnologia: processos e pessoas.

O processo de informatização de uma rede de saúde é um trabalho complexo que deve envolver a reestruturação do modelo de operação, pois a dinâmica de funcionamento do processo informatizado é bastante diferente do modelo manual, onde as informações disponíveis são precárias, estão em papel, e em 100% dos casos referem-se apenas as informações coletas dentro da própria unidade, seja pela recepção, pelos Agentes Comunitários de Saúde (no caso de PSF) ou pelos profissionais de saúde (principalmente médicos e enfermeiras).

O processo envolve uma grande mudança cultural, pois a partir deste momento toda a informação coletada na unidade estará disponível para consulta (respeitando todas as restrições legais de acesso) em todos os pontos de atenção. Esta mudança equivale à mudança que aconteceu alguns anos atrás no sistema bancário quando deixamos de ser clientes de agencias e passamos a ser clientes de bancos, ou no comércio quando deixamos de ser clientes de uma loja e passamos a ser clientes da rede, de uma hora para outra todas as unidades tinham acesso on-line as nossas informações.

Em um nível mais evoluído do processo começamos a acompanhar a movimentação do nosso cidadão na utilização dos diversos serviços, e abre-se neste ponto um conjunto maior de possibilidades, pode-se através do Complexo Regulador (falaremos disso em outro post) gerenciar o acesso deste cidadão à rede proporcionando o uso mais racional dos recursos, e garantindo o acesso a quem mais precisa e não mais a quem chegou primeiro, ou tem mais “amigos”.

Para ter sucesso no processo o primeiro ponto a ser considerado é que nossos objetivos devem ser primariamente objetivos de rede, que sem dúvida se desdobrarão em objetivos de unidades, mas sempre nesta ordem, devemos pensar a rede como um todo, considerando todas as suas características e particularidades (serviços, disposição geográfica, população, ambiente, nível de educação da população, etc.).

Roberto Gordilho
Diretor de Sistemas de Saúde Pública da MV - www.mv.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário